Será que todos os fins, tropeços e caminhos, sejam esses bons ou ruins, levam ao desejo do amor romântico? Recentemente, antes de ser banida em território nacional, viralizou um tweet que gerou diversas discussões e pontos de vista na antiga rede do passarinho: um questionamento sobre como a vida pode girar exclusivamente em torno de se sentir amado e pertencente.
Na hora, me veio em mente a cena de um dos meus filmes favoritos. Antes do Amanhecer, de 1995, é o primeiro longa da trilogia de Richard Linklater e acompanha os jovens Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) que após se conhecerem no trem para Paris, decidem fazer uma parada antes da hora e passar uma noite juntos em Viena. Em uma das cenas mais marcantes e memoráveis da película, Celine desabafa com Jesse sobre o anseio de querer ser amada. O diálogo exibe um grande dilema para uma enorme parcela de mulheres jovens adultas que cresceram buscando ser mais do que apenas namoradas ou esposas: Por que fazemos tão pouco caso do amor ao mesmo tempo que o desejamos incansavelmente?
Celine, lá em 1995, tinha a resposta: “Eu sempre senti essa pressão de ser um símbolo forte e independente de feminilidade, sem fazer parecer que toda a minha vida girava em torno de algum homem. Mas amar e ser amada significa tanto pra mim. Nós sempre tiramos sarro disso, mas tudo o que fazemos na vida não é com a tentativa de sermos um pouco mais amados?”

Esse sentimento não precisa necessariamente ser romântico, pois antes disso, sentimos com nossas amigas, animais de estimação, familiares… Mas quando se trata do romântico, para as mulheres, vem com um fardo incrivelmente pesado. Quando passamos grande parte da adolescência desesperadas, desejando a mínima chama de afabilidade, acabamos crescendo entendendo que a vida não pode ser resumida a isso. Descobrimos que o mundo não para quando nos apaixonamos, que os problemas reais ainda existem e que nem tudo pode ser curado com o amor, mas ainda assim, por algum motivo completamente desconhecido, buscamos por ele.
A fatalidade romântica
Mesmo com a fragilidade dos laços humanos, o amor existe dentro de nós de formas silenciosas e constantes, que salientam o desejo em pertencer a alguém. Mesmo que exista possessão em relacionamentos românticos e todas as problemáticas de consumo que o corroboram, seria triste resumi-lo apenas a isso quando o vemos acontecer de tantas formas.
Idealizado, capitalizado e vendido como pílula mágica de todos os problemas existentes, o amor quando vivenciado de verdade, nos mostra seu lado mais obscuro na mesma medida que expõe porque o queremos com tanta força. É um símbolo de vulnerabilidade que lidamos como se fosse uma fraqueza, uma autocrítica constante no fundo da mente, um lembrete do que não podemos fazer. Almejamos encontrar um sentido maior e mais forte do que isso, mas tudo o que fazemos em vida, é na esperança de em algum momento, ter a sorte de encontrar alguém com quem se possa ser fraco e humano.
Quando eu era criança, me lembro de consumir uma quantidade anormal de filmes de princesas e rom-com comandados por grandes gestos e exuberâncias românticas e pensar que aquilo era o maior exemplo de amor. Hoje, percebo que ele muda com a maturidade e o tempo, e está em coisas que às vezes nem me dou conta. Está em um carinho do polegar na bochecha, em cochichos tímidos, discussões desnecessárias fora de hora que terminam em abraços e consolo, risadas que doem a barriga e beijos molhados. Talvez o amor seja realmente mais simples do que fazemos ele parecer, sem nenhum significado mirabolante por trás do frio bobo e esperançoso na barriga e essa é a mágica dele que nos esforçamos para complicar.
Em A Paixão Segundo G.H de 1964, Clarice Lispector escreve: “O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça — que se chama paixão.”
Talvez a pancada fatal seja que nascemos com essa imperfeição perfeita de se preocupar com quem amamos e amar mesmo quando não deveríamos. Mesmo quando temos coisas mais importantes e sabemos que a vida não deveria ser resumida a isso, ela simplesmente é. Talvez, no fundo, o amor seja a afirmação de que somos humanos. Alguém me ama e me enxerga porque sou real e existente — e caramba, como é estranhamente difícil e complicado se sentir humano no século XXI. Talvez o amor seja o sinal mais verdadeiro e cru da vida, a reafirmação necessária de que graças a deus, há algo além do explicável.